segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Apnéia

Eu não sou louco.

Hoje por falta de opção afoguei meu ego na pia do banheiro, tratei de me livrar do corpo e me dar um novo ego, mais limpo, sem aquelas manchas de sempre do antigo.

Todas essas noções de certo e errado que nos cercam, também tratei de matá-las, são prejudiciais, arrancam de nós o potencial, nos alejam e nos deixam largados em desertos tão áridos que nem urubus atravessam.

Já vi pessoas morrerem nesses lugares, quando se morre assim, continua-se vivo e respirando, mas não há motivo, não há perspectivas, é como se faltasse algo muito importante, as pernas, ou o fígado, ou o coração, tanto faz, mas acho que é mais como se faltasse as pernas, porque acima de tudo, você não anda, você rasteja e com dificuldade é uma "semi-morte" dolorosa e lenta, muito lenta.

As pessoas felizmente podem voltar a viver após vários banhos e varias trocas de ego por novos, sem manchas, após receberem pernas novas, ou rins, ou cérebros, então elas se levantam e saem da areia podre do deserto de ossos, lá tudo fede a mofo, por tão velhos os mesmos ideais e os mesmos costumes e as mesmas punições e modos de agir, com todas as mesmas velhas ordens e falta de desordem, raramente as pessoas conseguem se salvar desse inferno.

Por falar em inferno, atrevesso por ele a cada porta que passo a cada caminho que tomo, mas atinjo hoje certos níveis de consciência que me permitem olhar para a cara do danado, mostrar o dedo médio e sair sorrindo, só depois de arder no seu fogo durante muito tempo (cerca de 2000 anos) é que adquirimos esse direito.

Então como eu estava dizendo, hoje, a renovação regada a uma quantidade considerável de álcool e olhos fundos por noites em claro e é claro esse calor que não me deixa dormir (devo muitos de meus pensamentos ao calor). Eu precisava de um corpo novo, precisava de mais um copo de conhaque, precisava sair do meu inferno que havia me sequestrado pra dentro de suas entranhas e me dilacerava me deixando aos pedaços.

Foi muito rápido que aconteceu minha saída, como se tivesse sido parido de novo, mas dessa vez em pé, e do escuro de repente ao cair no chão me encontrava em um banheiro cheio de luz e toda minha verdade espalhada pelas paredes e todos meus órgãos ainda em mim, mas agora limpos. Em meio a toda a ilusão de um mundo inventado para aprisionar, tive um pouco de visão da realidade criativa.

Por isso, afirmo novamente, eu não sou louco...

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Noite do deus do vinho

Ah! A dança, a brincadeira, a festa...
Ah! Aquela mistura, aquelas cores todas do teu sorriso... debochado, ah...
Aquele seu perfume, os devaneios, sim os devaneios...
Ah! O beijo, o beijo doce, forte, quente, cheio de uma loucura,
de uma excitação crescente.

 Seu corpo, a música, a festa, toda aquela gente... Ninguém...

Ah! A noite... a noite...
Evoé!

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Terra e sangue

Então, um belo dia, a gente morre.
Os pulmões ainda tem ar, o coração ainda funciona,
mas a gente esquece de como sofrer.

Tudo ao meu redor é horrendo, tudo é pesado e me da náuseas, sinto cada pedaço da mãe (terra) me tocar por todos os lados e sinto que já não sou parte dela, mas não posso me ver livre, sempre há os restos, sempre há trapos grudados em meu corpo.

Cego por minha ânsia de libertação, me debato com meus trapos, puxo, xingo, amaldiçoo, luto com tudo a minha volta, o ar o espaço, o chão e meus órgãos, tento tirá-los, mas é tudo inútil, tento mais, isso tudo pesa sobre minhas costas, arranco pedaços da terra em mim, mas sempre há restos, pego fogo por dentro, o escuro a minha volta é tão denso que chega a ser sólido, me esforço descomunalmente cada parte do meu corpo quer libertar o que resta de mim enquanto pode, caio, sinto o peso da terra (mãe) todo em mim.

Não há sofrimento, o que há é um certo caos que me move, um desejo incontrolável de controlar a mim. É muito? Porque a desgraça humana está em ser fruto do próprio ventre e ser obrigado a se subjugar ao útero. Somos paridos e gerados novamente a vida inteira inúmeras vezes até a loucura ou a morte, ou os dois.

O problema é a violência que é a vida. O problema é que nasci, se não fosse por isso não estaria aqui tão preso, tão morto, quero vingança, desprezo minha mãe por ter me dado a luz e me abrigado em seu seio, e por toda essa merda e essa prisão que se estende a minha volta, eu O desprezo por Ele querer de minha carne, desprezo a mim mesmo por ser o que sou, mas me amo e faço a única coisa que Ele não faz e que torna toda minha existência com mais sentido que a Dele.

Urino na Sua preciosa carne, ridícula, nesse pedaço de matéria podre, na minha carne crua e MORTA.

Ah... a vingança!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Atual mente

Atualmente minhas expectativas se confundem
Acho que tudo está errado
Mas não poderia estar de outro jeito
Então continuo
Eu
Continua o sol e o tempo o vento
E as expectativas

Há um excesso de estar em mim
Um excesso de explicações e significados
Há muita seriedade

E um mundo inteiro para viver
E isso não é nada demais

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Sacrifício

Ao continuar a caminhada no degradante
Sinto o cheiro das cortinas de fumaça que se formam
Tenho ânsia
Preciso de minhas mentiras
Preciso da abstração
Para que o espelho
Por um momento
Pare de refletir minha realidade
Só na minha terra de cegos
É possível enxergar com venda nos olhos
No escuro
Não reclamo minha sina
O papel me agrada companheiro para outros mundos
Nele viajo por ruas e vilarejos desconhecidos
Esconderijos onde me protejo
Labirintos cerebrais
Perigosos labirintos sentimentais
Em que me perco e para achar a saída devo dexar ali
Uma parte mesmo que pequena
Um sacrifício necessário
O sangue do cordeiro que trará a luz