Então, um belo dia, a gente morre.
Os pulmões ainda tem ar, o coração ainda funciona,
mas a gente esquece de como sofrer.
Tudo ao meu redor é horrendo, tudo é pesado e me da náuseas, sinto cada pedaço da mãe (terra) me tocar por todos os lados e sinto que já não sou parte dela, mas não posso me ver livre, sempre há os restos, sempre há trapos grudados em meu corpo.
Cego por minha ânsia de libertação, me debato com meus trapos, puxo, xingo, amaldiçoo, luto com tudo a minha volta, o ar o espaço, o chão e meus órgãos, tento tirá-los, mas é tudo inútil, tento mais, isso tudo pesa sobre minhas costas, arranco pedaços da terra em mim, mas sempre há restos, pego fogo por dentro, o escuro a minha volta é tão denso que chega a ser sólido, me esforço descomunalmente cada parte do meu corpo quer libertar o que resta de mim enquanto pode, caio, sinto o peso da terra (mãe) todo em mim.
Não há sofrimento, o que há é um certo caos que me move, um desejo incontrolável de controlar a mim. É muito? Porque a desgraça humana está em ser fruto do próprio ventre e ser obrigado a se subjugar ao útero. Somos paridos e gerados novamente a vida inteira inúmeras vezes até a loucura ou a morte, ou os dois.
O problema é a violência que é a vida. O problema é que nasci, se não fosse por isso não estaria aqui tão preso, tão morto, quero vingança, desprezo minha mãe por ter me dado a luz e me abrigado em seu seio, e por toda essa merda e essa prisão que se estende a minha volta, eu O desprezo por Ele querer de minha carne, desprezo a mim mesmo por ser o que sou, mas me amo e faço a única coisa que Ele não faz e que torna toda minha existência com mais sentido que a Dele.
Urino na Sua preciosa carne, ridícula, nesse pedaço de matéria podre, na minha carne crua e MORTA.
Ah... a vingança!

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